Puteiro
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
A Mudinha
- Vocês vão me desculpar,mas em matéria de sexo, não respeito homem que nunca tenha comido uma muda.
- Muda? Olha essa agora! Muda do tipo que não fala?
- Claro, tem de outro tipo?
- Deve até ter,mas desconheço.
- Mas voltando a história. Eu tenho essa teoria de que o homem só tem certeza absoluta de que esta dando prazer há uma mulher em duas ocasiões: Quando morre e deixa um seguro milionário ou quando fode com uma mudinha.
Certa vez,por motivos de bebedeira,fui parar em uma putaria. Dessas putarias de interior. Nada de plumas, paetês espelhos no teto e essas frescuradas dos bordéis aqui da cidade. Só uma casinha de madeira podre,quase caindo, no meio de um sítio, sem nada por perto.
No quintal tinha galinha,boi,vaca e até cabrita.
- Cabrita? Do tipo que bale e come grama?
- Porra cara, e existe outro tipo de cabrita?
- Ah existe!!! Ô se existe. Mas continua a história.
- Pois então. Lembro de ter pensado "Taquipariu,onde eu fui amarrar o meu bode? Se só tiver perebenta aqui eu como essa cabritinha mesmo".
Mas tomei coragem e entrei no puteiro. Porque até hoje nunca vi homem que vai até a porta da zona e não entra. Passou o portão,tem que entrar.
Cara, no que passei o batente da porta vi uma morena que olha... Saca amor a primeira vista?
- Bater o olho e se apaixonar?
- Bem assim. Tive um lance desses,só que não foi exatamente eu. Foi o meu pau. Teve um caso de tesão a primeira vista.
Passei pela porta e juro que ouvi o meu pau gritando "EUVOUCOMEROCUDESSAMORENA,EUVOUCOMEROCUDESSAMORENA,EUVOUCOMEROCUDESSAMORENA".
A mulher era um espetáculo,uma máquina, daquelas que vem com manual de instrução senão o cara não sabe onde apertar.
Sentei do lado da morena...
- Como era o nome dessa deusa?
- E puta tem nome cara? Shakespeare estava pensando em uma puta quando disse "A rosa teria menos perfume se tivesse outro nome?" Puta é puta,não precisa de nome.
Sentei do lado da morena,pedi cerveja para nós dois e tentei puxar assunto. Ela olhava para mim com jeito de desentendida e só sorria. E que DeusnossosenhorJesuscristo me perdoe por estar colocando um anjo em uma putaria barata daquelas, mas aquilo era sorriso de um anjo.
Conversa vai,conversa vai,porque não vinha né, passa a cafetina velha do lado e fala: "- Ih neném essa aí não é de conversa, nunca foi e nunca será, nasceu surda-muda. Pega pela mão,leva para o quarto e executa."
Ainda tentei argumentar com o meu pau "Porra,a menina é muda,tadinha".
"TADINHA É O CARALHO,QUER DIZER,SOU EU.ME METE LOGO ALI NAQUELA ABUNDÂNCIA.CÊ É VIADO?"
Vale dizer que tenho com o meu pênis o mesmo tipo de relacionamento que tenho com a minha esposa. Ele manda e eu obedeço.
Levei a mudinha para o quarto e quase chorei de emoção quando a safada tirou a roupa. Era muita perfeição. Estava diante da oitava maravilha do mundo moderno. Aquilo era obra assinada por Deus. Juro que eu vi a assinatura do criador ali naquele corpo. na parte interna de uma das coxas.
Meu pau,desesperado, guinchava: "VAI VIADO,ME PÕE ALI NO MEIO,DEIXA DE SER MOLE,ME METEMEMETEMEMETE"
- Peraí,mas e a teoria que você tinha dito lá em cima?
- Calma cara,quem esta comendo a Muda sou eu ou é você? Já chego lá.
E é aí que entra a minha teoria. Eu tive,pela primeira vez na vida, a certeza absoluta de que estava dando prazer para uma mulher.
É difícil de explicar,mas muda fode diferente sabe? Como elas não ouvem nada,nem os próprios gemidos, ficam sem amarras. Se soltam e fazem sons que outras mulheres,por recado ou qualquer outra coisa,não fazem. É mais um miado do que um gemido. A mulher parecia uma gata no cio.
E me olhava de um jeito que eu tive a impressão de que a qualquer momento ia abria a boca e falar "- Vai,mete tudo,com mais força".
A morena gemia tão alto que se o sítio tivesse vizinhos eles teriam chamado a polícia. E me arranhava,e se torcia toda. A mulher estava possuída pelo capeta.
Vou te dizer, foia melhor foda da minha vida e só custou 20 reais. E é por isso que digo que o homem só tem certeza que esta dando prazer para uma mulher se comer uma muda.
- Caralho brother,vamos lá agora que eu quero conhecer essa Mudinha.
- Acha que já não voltei? Não esta mais lá,sumiu.
- Passou o portão e entrou? Comeu a cafetina velha?
- Passei o portão,entrei. Mas comi a cabrita.
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Rita de Cássia
- Isso não é nome de puta neném.
Pernas finas,quase gambitos,marcadas por horrorosas cicatrizes de surras,antigas e novas. Corpo raquítico e barriga saliente,caindo para fora do shorts surrado, rasgado e sujo. Dentes amarelentos,quase cor de bolor e hálito rescendendo a cigarros baratos. Era a puta mais judiada do puteiro mais derrubado da cidade.
E era tudo que o meu dinheiro podia pagar,além da conta das duas cervejas que já tinha tomado.
- Faço questão.
A puta dizia isso com toda a dignidade que lhe restava depois de 35 anos perambulando de zona em zona. De pau em pau, de caralho em caralho.
Não era muita, a dignidade digo, apenas o suficiente para as palavras caírem pesadas no chão,envoltas em uma nuvem de cachaça de alambique,que a desgraçada tomava de canudinho.
- Questão absoluta. Rita de Cássia. É um nome bonito, a única beleza que me sobrou nessa vida de merda.
Enchia a boca e falava de novo.
- Vida de merda.
Tive que concordar com ela. Vida de merda.
Falava de beleza e de merda com o mesmo entusiamo,entre goles da cachaça e clientes lhe passando a mão nas ancas murchas. Fazia a apologia da beleza no meio da fealdade, da desgraça, da desilusão de putas e clientes, da cafetina e dos garçons. Fazia a apologia da beleza e estragava o fígado com a cana vagabunda.
E recitava poesias, com a boca frouxa, os lábios encarnados quase caindo da cara:
Beijar-te a fronte linda
Beijar-te o aspecto altivo
Beijar-te a tez morena
Beijar-te o rir lascivo
Beijar o ar que aspiras
Beijar o pó que pisas
Beijar a voz que soltas
Beijar a luz que visas
Sentir teus modos frios,
Sentir tua apatia,
Sentir até repúdio,
Sentir essa ironia,
Sentir que me resguardas,
Sentir que me arreceias,
Sentir que me repugnas,
Sentir que até me odeias,
Eis a descrença e a crença,
Eis o absinto e a flor,
Eis o amor e o ódio,
Eis o prazer e a dor!
Eis o estertor de morte,
Eis o martírio eterno,
Eis o ranger dos dentes,
Eis o penar do inferno! *
- Inferno. Entendeu bem? Inferno filho da puta. Inferno.
Poesias de uma época quase tão remota quanto ela mesma. Até que era bonito aquilo. Uma puta recitando poesias era tudo de melhor que poderia acontecer aqui. Destoava,mas era bonito.
- Desce mais uma.
Mais uma para tomar coragem e levar a puta Rita de Cássia para o quarto. Mais uma para encarar o cheiro rançoso da xoxota que dava para sentir há dois metros de distância.
- Vou te chamar de Vanessa. Rita de Cássia não é nome de puta neném.
(*) Martírio - Junqueira Freire.
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